Expansão interpretativa: perspectivas femininas

 

 

debate 4

 

Alessandra Fernandes (UFPR)
Andréa Mattos (UFMG)
Cielo Festino (UNIP)
Leina Jucá (UFOP)
Luciana Ferrari (UFES)

 

As perspectivas críticas para a Linguística Aplicada tiveram seu grande boom no contexto de ensino de línguas e formação de professores de línguas no Brasil a partir de 2006, após a publicação das Orientações Curriculares para o Ensino Médio - OCEM (BRASIL, 2006). Impulsionadas pela atuação da Profa. Walkyria Monte Mór, em co- coordenação com o Prof. Lynn Mario Trindade Menezes de Souza, à frente do Projeto Nacional para Formação de Professores nas Teorias dos Novos Letramentos, Multiletramentos e Letramento Crítico, com sede na USP, tais perspectivas críticas avançaram em várias regiões do Brasil, principalmente naquelas onde se instalaram os chamados núcleos-parceiros do Projeto Nacional (PN), representados hoje por um conjunto de cerca de 30 universidades federais, estaduais e particulares, onde vários pesquisadores se dedicam a estudos teóricos e aplicados no campo que hoje vem sendo chamado de Ensino Crítico de Línguas ou Educação Linguística Crítica.

Uma das principais propostas da Profa. Walkyria Monte Mór, neste recente campo, decorre do que ela chama de “expansão interpretativa” (MONTE MÓR, 2009). Essa perspectiva crítica tem influenciado a abordagem dos estudos linguísticos e literários por meio de um viés de horizontalização em que hierarquias entre tradições são desconstruídas; temáticas que revelam as problemáticas atuais (identidade de gênero, questões raciais, diferentes formas de discriminação social), gêneros textuais diversos, antes considerados marginais, narrativas na tela e no papel são levados para a sala de aula de maneira crítica.

Todas essas inovações têm feito com que hoje os estudos linguísticos e literários sejam considerados formas de inclusão social. Dentro desse amplo escopo de temáticas e, a partir da expansão interpretativa, nesta proposta de debate, focaremos no trabalho de Monte Mór pelo viés feminino, não apenas pela sua identificação sócio-histórico-cultural com o signo "mulher", mas também por compreendermos que tal identificação se faz fortemente presente em seu trabalho e em suas ações ao longo de toda a sua trajetória profissional e, principalmente, por considerarmos de suma importância explicitar o papel histórico fundamental do feminino e de suas perspectivas no que se refere à expansão das possibilidade de leitura e construção de sentidos dos sujeitos sócio-historicamente constituídos e posicionados, independentemente de sua origem, gênero, classe social, raça, orientação sexual, idade ou religião.

O potencial transformador do feminino é, portanto, o foco maior deste debate que nos propomos a fazer. Tal debate considera o sistema capitalista neoliberal sob o qual vivemos e suas nefastas consequências, entre as quais podemos citar a exploração violenta das forças de trabalho e, mais precisamente, no nosso campo de interesse aqui: os impactos deste sistema nos corpos, nas mentes e nas vidas das mulheres, forçosamente posicionadas de forma servil, no sistema laboral necessário à vida. Entendemos que as perspectivas femininas de leitura e interpretação de mundo/texto tem exercido papel fundamental na (des)construção e na (trans)formação de noções de realidade e de verdade nas quais estamos todos imersos.

Por meio das lutas pelo trabalho, pelo voto, pelo divórcio, pelas próprias escolhas, pela expressão e escuta da sua voz, pela liberdade, enfim, a mulher tem buscado para si e, dessa forma, também para o outro, o direito de simplesmente inventar-se e existir à sua própria maneira. É essa invenção contemporânea que Monte Mór faz de si mesma, de seu trabalho, daqueles que a ela e a ele têm acesso e do texto/mundo circundante que queremos referenciar e reverenciar aqui.